Desde que Kate Middleton tornou-se membro da família real britânica – e até mesmo antes disso – sua aparência sempre foi debate público veementemente acompanhado tanto pela imprensa quanto pelas redes sociais. Ela garante uma audiência sempre superlativa. O seu cabelo, muito provavelmente, é um dos assuntos mais comentados. Dá para fazer uma longa lista de todas as variações de nomes para “castanho iluminado” que já demos a esses fios que, de tempos em tempos, sofrem alterações muito delicadas em tonalidade. Afinal, a monarquia tem o compromisso de dar à plebe uma sensação de estabilidade. A Rainha Elizabeth II morreu usando o mesmo penteado.
Por isso a surpresa e o furor na internet quando a Princesa de Gales apareceu loira – assim, sem mais nem menos…
Assim, sem mais nem menos?
Foto: Getty Images
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Em janeiro de 2024, Kate Middleton descobriu um câncer depois de ter passado por uma cirurgia abdominal. Em março do mesmo ano, ela anunciou publicamente o diagnóstico e deu início à quimioterapia preventiva – tratamento que foi concluído em setembro. Em um anúncio sobre sua volta gradual à vida pública, ela explicou que o tratamento a deixou bastante frágil em alguns momentos, mas que havia períodos de bem-estar que lhe permitiam estar mais ativa. Em janeiro deste ano, ela confirmou estar oficialmente em remissão.
Entre as reações, vários a atacavam. “Como está feia, parece que está de peruca”. A insensibilidade com mulheres célebres não é novidade, claro. Este é um mundo patriarcal, em que esse tipo de ataque – infelizmente, cada vez mais, em tempos de redes sociais – é quase corriqueiro. No entanto, impressionam alguns fatores a respeito da resposta que essa possível peruca, essa mudança para o loiro, tenha causado globalmente.
A primeira é que engana-se quem pensava que a monarquia britânica tem pouco ou nenhum poder. Em um momento da economia global em que atenção parece ser a principal e mais rara mercadoria à venda, o cabelo da princesa rende uma fortuna.
A segunda é que, além de ter poder, sim, quando os símbolos desse poder se fragilizam, o tsunami corretor vem à galope. “Como assim outro cabelo?”
A terceira é que está aqui um exemplo grátis e muito contundente a respeito do anacronismo do sistema monárquico: Kate Middleton é humana. Reis e rainhas são símbolos. Kate teve câncer. Símbolos não adoecem. Kate mudou de cabelo. Símbolos como esses não podem se transformar – não sem perder força.
A quarta e última é que, para além de a gente se importar mais do que deveria sobre o cabelo da princesa, a gente está cada vez pior em esconder nosso fetiche em atacar mulheres em posição de destaque – nem o risco de parecer insensível frente a um câncer é capaz de frear-nos. A princesa aguenta o tranco, o pior, como sempre, sobra para a sociedade como um todo.