As superfícies verticais das moradas são como grandes telas em que podemos contar um pouco da nossa história, exibir memórias ou imprimir as sensações que queremos transmitir ao ambiente. E a composição de parede é uma arte capaz de reunir itens afetivos, como uma espécie de moodboard pessoal, que pode ser aplicado das mais diversas formas, em diferentes estilos e propostas de décor. Os arranjos podem ser intuitivos, maximalistas, repletos de quadros, cores e objetos – como também podem ter um visual limpo, com medições alinhadíssimas, quase como uma galeria de arte.
“Uma composição de parede precisa ter significado para quem vive no espaço, por isso é importante respeitar a história pessoal do morador e permitir que cada item conte uma parte dessa narrativa”, sugere a arquiteta Vanessa Paiva. Outro cuidado importante, no caso das composições com quadros, é com relação à escolha das molduras. “Se possível, opte por opções neutras, para que o protagonismo fique nas imagens e nos objetos, o que possibilita uma composição harmônica mesmo com elementos variados”, indica sua sócia, a arquiteta Cláudia Passarini.
E para que os arranjos formem uma composição fluida no projeto como um todo, vale considerar algumas orientações. “É preciso privilegiar o olhar amplo, a coexistência entre os elementos, observar o conjunto com equilíbrio e clareza. Esse conceito deve se desdobrar na relação entre obras, mobiliário e arquitetura”, propõe o arquiteto Gabriel Figueiredo. “A palavra-chave é fôlego: ter espaço entre as escolhas, um intervalo que permita que cada elemento respire, seja percebido e compreendido com nitidez, onde nada sufoca nem sobrecarrega, tudo dialoga com intenção”, complementa o designer de interiores Fabrício Frezza, sócio de Figueiredo.
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Por fim, para quem for se aventurar a criar uma composição de parede e não sabe por onde começar, eis aqui algumas dicas: passeie pelos cômodos da sua casa e junte algumas peças que adora – podem ser miudezas, colares, pratos, tigelas, desenhos, cartas, chapéus ou flores secas. E também pôsteres, gravuras ou fotos que gostaria de emoldurar. Feito isso, distribua os itens sobre um tapete ou uma mesa.
Olhe para o conjunto e, então, imagine um retângulo onde você montará sua composição, como um jogo de encaixe. Organize os objetos nesse espaço, faça tentativas, inclua peças novas, retire outras e, com calma, crie uma montagem que te deixe feliz. Depois, tire uma foto da composição e meça o espaço total que ela preenche. Com fita crepe em mãos, delimite esse quadrante na parede e, em seguida, fixe peça por peça, seguindo a montagem fotografada.
Obras de arte, mobiliário e arquitetura em equilíbrio
Foto: Instagram/@frezzaefigueiredo | Carolina Mossin
Nesta composição cuidadosa do escritório Frezza & Figueiredo, todas as peças são protagonistas, nenhuma se sobrepõe ou compete visualmente, o que valoriza o espaço e promove uma leitura limpa e harmônica do todo. Na imagem, acima da poltrona Bola (à direita), de , duas fotografias em preto e branco ganharam passe-partouts generosos e molduras delicadas. Alinhadas verticalmente no ambiente de estar, elas dialogam com a divisória e a grande tela da artista plástica Célia Soares, na mesma paleta, que desempenha papel central no ambiente de jantar.
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Arranjo intuitivo para uma gallery wall cheia de significado
Foto: Instagram/@paivaepassarini | Xavier Neto
Foto: Instagram/@paivaepassarini | Xavier Neto
Neste projeto desenvolvido pelo escritório Paiva e Passarini Arquitetura, a composição de parede foi pensada como uma galeria afetiva. Composta por gravuras, aquarelas, fotografias e objetos, como o leque e o prato, ela reúne elementos cuidadosamente selecionados pela moradora ao longo da vida. Na montagem, o ponto de partida foi o quadro central horizontal e, a partir dele, os demais itens foram dispostos de maneira intuitiva e livre, sem a rigidez de medições exatas entre os itens, mas sempre buscando o equilíbrio visual da composição ao olhar.
Mistura de estilos com quadros, objetos e plantas pendentes
Foto: Instagram/@cafofododani | Derek Fernandes
Nesta sala repaginada por Daniel Virgnio, a parede atrás do sofá recebeu um tom de areia aconchegante (cor Cerrado, da Suvinil) e uma linda composição com peças das moradoras. A montagem tem um conjunto de quadros, objetos inusitados e uma luminária articulável seguido por uma sequência vertical de plantas pendentes dispostas alternadamente e, por fim, uma obra colorida, destacada por um spot direcional. “São composições guiadas pela sensibilidade, em uma mistura livre de estilos. É uma sala que conta histórias de pessoas, experiências e memórias”, define Daniel.
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Itens afetivos e escalada para gatinhos compõem a parede
Foto: Instagram/@sertaoarquitetos | Guilherme Pucci
Reformado pelo escritório Sertão Arquitetos, este apartamento teve um antigo dormitório transformado em sala de jantar. Neste ambiente, a parede lateral recebeu uma decoração afetiva e funcional, que já começa pelas pequenas prateleiras para os moradores felinos alcançarem a passarela acima da janela. Depois, um painel de macramê em um tom mostarda é acompanhado por bastidores bordados, objetos delicados, quadros e uma plaquinha de metal. Este conjunto de itens menores fica harmônico visualmente ao seguir a altura da peça maior.
Composição de parede diferente com folhagens preservadas
Foto: Instagram/@bmastudio | Luis Gomes
Esta última ideia é para ampliar o olhar quando falamos em composições, afinal, elas não precisam ser feitas apenas de quadros ou objetos. Elas podem exibir tapeçarias, bandeiras decorativas, neons luminosos e, por que não, folhagens? Neste projeto do arquiteto Bruno Moraes, a composição é feita com hastes de plantas naturais desidratadas, encaixadas em um painel que preenche a parede de 2,50 x 1,95 metros. “A vantagem é que ela pode ser implantada em ambientes internos, sem a necessidade de iluminação natural, impermeabilização ou irrigação”, explica o profissional.