Amyr Klink alugou uma de suas casas no Centro Histórico de Paraty (RJ) com uma condição: seu primeiro barco, construído para uma travessia solitária que fez a remo em 1984, deveria permanecer no local. É no quintal desse casarão tombado que acaba de abrir o bar Atlântico, cujo nome faz referência à mata e ao mar.
Casarão ondo funciona o Bar Atlântico.
Foto: Camilla Loreta
Seus coquetéis são de autoria de Thiago Bañares, dono e diretor criativo do paulistano Tan Tan, o único brasileiro na lista dos melhores bares do mundo pelo ranking World’s 50 Best Bars. Thiago, que assina uma carta fora de seus próprios negócios pela primeira vez, foi seduzido pela proposta de estabelecer um diálogo com o entorno no bar e construir drinks com insumos da Mata Atlântica. “Uma carta deve ter propósito. A gente não faz só uma lista de coquetéis. No Atlântico, a ideia de valorizar o regional tem muita relação com a filosofia japonesa”, diz ele, conduzido por essa cultura.
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Na retaguarda das bebidas, o cardápio da chef Fernanda Valdívia equilibra receitas frias, cruas e frescas com preparos feitos no Josper, um forno a carvão que assa, grelha e defuma. Os produtos locais que abastecem o bar e a cozinha são da Bananal, uma fazenda vizinha com a Mata Atlântica preservada, que pertence ao mesmo grupo do bar, OCanto, e respeita os princípios da agroecologia.
Lulinhas à dorê com molho tártaro.
Foto: Laís Acsa
Seu consultor, o botânico autoditada Jorge Ferreira, ajuda a enriquecer o repertório de ingredientes e, assim, alargar as possibilidades de sabor. Ele propôs, por exemplo, o uso da pacová, uma planta nativa desse bioma, cuja semente é conhecida como cardamomo do Brasil e aparece em receitas do Atlântico.
A conexão se estende até as roupas de Flavia Aranha, cuja loja ocupa o mesmo imóvel. O fruto da pacová, roxo quando maduro, serve como pigmentação e está em testes para colorir tecidos, em um laboratório em que se estuda a biodiversidade para tingimentos naturais com cascas de árvores, frutos, folhas e raízes.