Com o avanço acelerado da inteligência artificial, especialmente após o surgimento de modelos generativos como o ChatGPT, Midjourney e Sora, cresce o alerta entre especialistas e acadêmicos: a tecnologia que deveria promover inovação e inclusão pode se tornar uma arma poderosa de manipulação nas eleições brasileiras.
A preocupação não é teórica – ela já é realidade.
Nas eleições presidenciais de 2022, já se observou o uso de robôs para disseminação em massa de desinformação. Agora, com a IA generativa, abre-se um novo patamar: vídeos falsos (deepfakes) com vozes e rostos de candidatos, notícias inteiras escritas por robôs, e mensagens personalizadas para manipular cada eleitor individualmente.
“Estamos entrando em uma era onde o eleitor pode ser persuadido por algo que nunca existiu”, afirma o cientista político Pablo Ortellado, professor da USP. “E o mais perigoso é que ele acreditará que chegou a essa conclusão sozinho.”
A Justiça Eleitoral não está preparada
Apesar dos esforços do TSE em criar regras para combater fake news, a velocidade da tecnologia supera em muito a da regulação. A criação de conteúdo falso com IA já não depende mais de especialistas ou grandes investimentos. Com um celular e um aplicativo gratuito, qualquer pessoa pode criar vídeos de candidatos dizendo coisas que nunca disseram.
A advogada e especialista em direito digital, Estela Aranha, que já integrou o grupo de ética em IA da Unesco, alerta: “As campanhas brasileiras são altamente emocionais e baseadas em afetos. A IA permite criar exatamente o conteúdo emocional que atinge o inconsciente de cada grupo-alvo. Isso não é apenas manipulação: é um novo tipo de engenharia eleitoral.”
A crítica da inteligência contra a inteligência artificial
Intelectuais, acadêmicos e programadores de renome têm soado o alarme. O professor e filósofo Renato Janine Ribeiro foi direto: “Estamos entregando a democracia nas mãos de uma máquina que não responde a ninguém. A inteligência artificial não tem responsabilidade civil, nem ética. Quem vai responder se ela manipular uma eleição?”
Em paralelo, o engenheiro de software e ex-funcionário do Google, Tristan Harris, cofundador do Center for Humane Technology, que já alertou o mundo sobre os vícios das redes sociais, declarou: “As eleições de 2024 e 2026 em países como o Brasil serão o campo de teste definitivo do poder da IA para manipular democracias. E estamos despreparados.”
O que está em jogo?
Se por um lado a IA pode ajudar no combate à desinformação, análise de dados e acessibilidade nas campanhas, por outro, a ausência de regulação robusta e a dificuldade do eleitor comum em identificar manipulações profundas colocam em risco a legitimidade do processo eleitoral.