Dior Men, verão 2026

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Jonathan Anderson não chegou exatamente de mansinho na Dior. Dizer que chegou com cuidado, muito estudo e planejamento representa melhor a realidade. Ele foi nomeado em abril. Em junho, a segunda parte de um segredo mal guardado foi comunicada oficialmente: ele assumiria também o .

A estreia na passarela aconteceu na sexta-feira (27.06), em Paris, com a coleção masculina de verão 2026. O cenário, em frente ao Hôtel des Invalides, foi projetado nos moldes da Gemäldegalerie, em Berlim. O centro de exposições tem as salas forradas de veludo em tons neutros, não muito diferentes daqueles dos salões de alta-costura da maison.

foi galerista antes de virar couturier. Jonathan Anderson tem toda uma relação com arte – é colecionador, inclusive. Durante seus quase 12 anos na , colaborou com artistas de mídias diversas, porém com trabalhos sempre chamativos, fosse pelo puro visual ou por referências que demandavam atenção em determinado momento.

Dior Men, verão 2026.

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Foto: Divulgação

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No seu primeiro desfile para Dior Men, havia apenas duas obras expostas (uma delas emprestada do Museu do Louvre). Eram pinturas de naturezas-mortas de Jean Siméon Chardin. Uma retratava um vaso de flores, a outra uma cesta de morangos. Ambas datam do século 18, período marcado pelo excesso e pelo espetáculo nas expressões artísticas. Chardin se destacou por olhar para o sentido oposto, para o cotidiano e trocar a grandeza pela sinceridade.

Quem acompanhou a apresentação pela internet viu alguns vídeos produzidos e outros “em tempo real” dos convidados nos bancos de trás de seus carros. Todos vestiam Dior da cabeça aos pés. Até aí, nada de novo. Acontece que nenhum deles parecia fantasiado ou produzido demais. Isso é raridade hoje.

Sensação parecida apareceu na passarela. A primeira entrada é uma releitura do New Look. A jaqueta é de tweed irlandês e o desenho do quadril se dá por estruturas frontais no torso (o original dependia de ajustes na cintura e de enchimentos). No lugar da saia, uma bermuda cargo oversized, com maxipregas na parte de trás. Esse volume nas costas foi inspirado no vestido Delft, de 1948. Dos arquivos, Jonathan também interpreta a silhueta acinturada do modelo Caprice em trench coats e camisas e define o contorno de shorts com base no design La Cigale, de 1952.

Dior Men, verão 2026.

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Foto: Divulgação

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Isso na porção mais diretamente referencial às criações de Monsieur Dior. Outras características e gostos do couturier são contemplados de maneiras mais sutis. O flerte com as artes, por exemplo, dá o tom à cenografia. O interesse pela cultura e pelo estilo britânico pode ser visto nos visuais preppy e nos elementos da alfaiataria rebuscada do século 18. Alguns fraques e coletes são reproduções de peças originais daquela época.

Só que não para por aí.

O cenário ainda lembra as salas coloridas dos primeiros desfiles de Raf Simons à frente da Dior. Os looks arrumadinhos, meio anos 1980, à la Gigolô Americano e A Primeira Noite de um Homem, marcaram as coleções de Patrick Lavoix, que comandou a linha masculina antes da chegada de Hedi Slimane, em 2000.

Quando Jonathan Anderson começou a trabalhar com moda, numa loja de departamentos em Dublin, a Dior Homme (o nome mudou para Dior Men em 2018) estava no auge. Como os tamanhos eram micro, não vendia muito e o que sobrava ganhava altos descontos. Em entrevista a Cathy Horyn, crítica de moda do The Cut, o estilista menciona uma jaqueta de smoking e as calças perfeitas vindas de tais liquidações.

Dior Men, verão 2026.

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Foto: Divulgação

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A estética aristocrática (às vezes meio decadente até) era recorrente no repertório de Slimane. Os jeans que ele introduziu na maison tiveram uma influência imensa no mercado e em toda uma geração. Os de agora também prometem fazer bastante sucesso, embora menos impactantes.

O début de Jonathan Anderson revisita tudo isso e mais um pouco. Tem um tanto de paixões próprias, como o olhar infantil/lúdico/inocente, um tipo de sensualidade (erotismo talvez?) gay e uma tendência a imperfeições, a coisas fora do lugar (uma barra mais curta do que a outra, uma gravata usada ao contrário).

Com essa primeira coleção, é como se Jonathan estivesse mapeando a casa para entender o que deseja manter, o que precisa reformar, o que cabe de novo, o que pode deixar de fora. É comum associar criação a ideias de caos, confusão e ausência de limites. Raro é falar da importância de disciplina e método na materialização da expressão artística, da criatividade.

Dior Men, verão 2026.

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Foto: Divulgação

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O verão 2026 da Dior Men pode parecer tiro para todo lado. E é mesmo – intencionalmente. Fragmentação e multiplicidade integram o modus operandi da cultura nos nossos tempos. A baliza da coerência é a linguagem. E é aí que as polaroids de Andy Warhol, usadas como campanha-teaser, ganham camadas extras de significado.

Jonathan Anderson escolheu dois retratos de Warhol para ilustrar os rumos que gostaria de dar à Dior: da relações públicas e socialite Lee Radziwill e do artista Jean-Michel Basquiat. Os dois personagens são conhecidos por identidades e estilos bastante particulares. Atributos que, no caso de ambos, nem sempre dependiam de suas roupas. Na verdade, elas estão lá a serviço ou como plataforma de comunicação das personalidades de cada um.

Daria para falar pencas da relação da pop art de Andy Warhol com a massificação da indústria cultural e com aquele momentinho de superindividualidade dos anos 1960 e 1970. Mas, para focar no que interessa, vamos lembrar dos convidados do desfile e da leveza de seus looks. Tirar um pouco do peso, da rigidez formulática e dar espaço à espontaneidade é um bom começo. Faz sentido e abre muitas possibilidades.

“Ah, mas as roupas eram bem básicas, né?” Eram e não eram. Se fossem tanto, não expressariam nenhum tipo de relevância. Hoje, elucubrações criativas sem nenhum contato com a realidade parecem defasadas, inócuas. Placebo, sabe? Mais atual é tudo aquilo com potencial de alterar, ou ao menos ajudar e tornar mais interessante a vida como ela é. Ainda que a partir de uma idealização.

 

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