Pedro Testa pensava em criar gado quando comprou a Fazenda Santa Maria, em São Sebastião da Grama, interior de São Paulo. Porém, ao olhar para a produção agrícola ao redor – café e azeite de alta qualidade –, trocou as ideias de lugar. Nos idos de 2017, o vinho do sudeste brasileiro já era uma verdade. A paulista Guaspari, a mineira Maria Maria e outras vinícolas haviam provado ser possível produzir vinhos finos fora da região sul.
Pedro pensou diferente ao criar a vinícola Casa Tés. Em vez de investir apenas na Syrah, uva bem adaptada ao manejo de dupla poda e às colheitas de inverno no sudeste e em outros estados brasileiros, mirou nas castas tintas , Merlot e Cabernet Sauvignon e nas brancas Sauvignon Blanc e Sémillon. O produtor tinha uma inspiração clara: Cabernet Franc e Merlot formam boa parte do corte do mítico vinho Cheval Blanc, de Bordeaux, que quase sempre conta com uma pequena porcentagem de Cabernet Sauvignon na mistura.
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“Será que podemos chegar a um Cheval Blanc brasileiro?”, perguntou Pedro durante um almoço com jornalistas gastronômicos em São Paulo. A hipótese pode parecer ambiciosa demais diante do fato de que o Cheval Blanc, classificado como Premier Grand Cru Classe A, tem quase 200 anos de história e é um dos vinhos mais famosos e cobiçados do mundo. Em 2010, na Christie’s de Genebra, uma garrafa da safra mais celebrada, a de 1947, foi arrematada por 192 mil libras em 2010, algo que ultrapassa 1 milhão e 400 mil reais.
Pedro Testa, fundador da Casa Tés.
Foto: Divulgação
Pedro não se intimida com a grandeza do vinho de referência e diz que tem a seu favor um terroir especial, com algumas características semelhantes ao de Saint-Émilion, sub-região de Bordeaux onde nasce o Cheval Blanc. “Temos altitude de mais de mil metros, um paredão de granito que cria um microclima diferenciado, além de boa amplitude térmica. Isso garante a maturação lenta das uvas, com preservação da acidez. Nosso solo vulcânico é rico em ferro, que leva sabor de sangue ao vinho, algo muito parecido ao que acontece em Saint-Émilion”, explica.
As mesmas vantagens citadas por Pedro – estrutura do solo, amplitude térmica e altitude – são confirmadas por Pierre Lurton, nada menos do que o presidente dos conselhos do Château Cheval Blanc e do Château d’Yquem, outra joia de Bordeaux, famosa pelos finíssimos (e caríssimos) vinhos doces elaborados na sub-região de Sauternes. O entusiasmo de Lurton foi além do elogio: ele chegou a participar de degustações técnicas que definiram os blends dos vinhos da Casa Tés.
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Palavras positivas de quem entende um bocado do riscado, um bom storytelling e o trabalho de sommeliers de renome colocaram o rótulo Casa Tés 2022 na lista The World’s Best Sommeliers’ Selection deste ano, da mesma organização de The World’s 50 Best Restaurants. O rol é definido por profissionais de restaurantes 50 Best ao redor do planeta, em degustações que não são feitas às cegas. Ou seja, os jurados sabem o nome e a procedência de cada vinho que avaliam.
Danyel Steinle, sommelier e sócio do restaurante Nelita, fez parte do júri e integra o conselho da Casa Tés ao lado de Massimo Leoncini, responsável pela gerência de bebidas do Grupo St. Marché e com passagens pelo hotel Fasano e pela importadora Grand Cru. A dupla levou os rótulos da vinícola a um grupo estrelado de restaurantes brasileiros, quase todos Michelin. Além do Nelita, a lista inclui Tuju, Evvai, D.O.M. e os hotéis Rosewood, em São Paulo, e Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, entre outros.
Rótulos da Casa Tés.
Foto: Divulgação
Casa Tés 2022, o blend com 75% de Cabernet Franc e 25% de Merlot é um vinho de ótima acidez e de taninos bastante macios, trabalhados em carvalho francês, o que se traduz em elegância. As notas herbais estão presentes, junto com aromas de figo, ameixa e outras frutas escuras. Seu preço gira em torno de R$ 540 (bem mais ameno do que os quase R$ 18 mil cobrados por um Cheval Blanc no Brasil).
Outros dois vinhos Casa Tés são da linha Grama: o Grama Branco (R$ 250) mescla Sauvignon Blanc e Sémillon e também é uma bebida delicada, de boa acidez, com o herbal característico da Sauvignon e frutas brancas bem polpudas. Já o Grama Tinto (R$ 340) é um blend de Cabernet Sauvignon, Syrah e Merlot, e traz um perfil mais parrudo à linha Tés.
Por enquanto, não adianta procurar nos empórios, porque não é possível encontrar os rótulos no varejo. A Casa Tés vende ao consumidor final por um sistema de alocação. Os interessados devem inscrever-se no site da vinícola e aguardar sua vez na fila.