A busca por unhas impecáveis e duradouras levou muitas mulheres a aderirem ao uso de unhas em gel. A técnica, conhecida por seu acabamento brilhante e resistência prolongada, conquistou os salões de beleza e se tornou tendência entre quem deseja praticidade aliada à estética. No entanto, um alerta vem ganhando força entre médicos e profissionais da área: a alergia a unhas em gel pode representar riscos sérios à saúde da pele e das unhas, e está se tornando cada vez mais comum.
Segundo especialistas, a reação é causada principalmente por substâncias químicas presentes nos produtos usados na aplicação, como os acrilatos. Esses compostos são responsáveis pela aderência e durabilidade do gel, mas também têm alto potencial alergênico. Quando há contato repetido ou prolongado com esses agentes sensibilizantes, o organismo pode desenvolver reações alérgicas que vão desde sintomas leves até quadros mais graves, exigindo intervenção médica.
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“A vermelhidão ao redor das unhas, coceira, ardência e descamação são alguns dos sinais clássicos”, afirma a médica dermatologista Carla Ribeiro. “Em casos mais graves, pode haver inchaço, dor intensa e até descolamento das unhas. Não é incomum algumas pacientes surgirem no consultório com a pele extremamente irritada, e muitas demoram para associar isso ao gel. Outras insistem em continuar com a aplicação mesmo com sintomas, o que só piora”.
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Um dos principais fatores de risco é o uso inadequado da técnica, especialmente quando feita em casa, com kits comprados online. “Sem o controle de qualidade adequado e sem a cura química completa do gel sob a luz UV, parte do produto pode permanecer inativa, aumentando a chance de sensibilização da pele”, alerta Carla. O problema, porém, é que esses compostos não afetam apenas a área das unhas: uma vez sensibilizado, o organismo pode reagir a outros produtos semelhantes usados em tratamentos odontológicos ou ortopédicos.
Em países da Europa e nos Estados Unidos, dermatologistas já têm emitido alertas sobre o aumento de casos de alergia a unhas em gel. A British Association of Dermatologists, por exemplo, publicou em 2023 uma nota destacando que o número de pacientes com reações adversas dobrou nos últimos cinco anos.
No Brasil, em junho deste ano, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) chegou a emitir um comunicado expressando sua inquietação sobre o aumento dos casos e alertando que testes alérgicos devem ser realizados somente por médicos, preferencialmente dermatologistas ou alergologistas. “A SBD, por meio de seu Departamento de Alergia e Dermatoses Ocupacionais, vem, por meio desta Nota Informativa, manifestar preocupação diante de publicações veiculadas em redes sociais que orientam manicures e outros profissionais da área de estética a realizarem testes cutâneos em clientes com suspeita de alergia a produtos utilizados na aplicação de unhas artificiais”, dizia a nota.
A instituição defende que o problema está menos na técnica e mais na exposição descontrolada e repetitiva aos agentes sensibilizantes. “Observa-se, inclusive, um crescimento expressivo nos casos de alergia nos últimos anos”, acrescentava o comunicado.

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Apesar do alerta, abandonar o gel não é a única alternativa. Já existem no mercado opções com menor concentração de substâncias alergênicas e linhas hipoalergênicas. Algumas marcas, inclusive, apostam também em tecnologias de secagem mais eficazes, que garantem a cura completa do gel e reduzem o risco de exposição ao produto não polimerizado.
Para quem já apresentou sintomas de alergia a unhas em gel, a recomendação é suspender imediatamente o uso da técnica e procurar um dermatologista. O tratamento pode envolver medicamentos anti-inflamatórios, cremes com corticoides e até testes alérgicos para identificar com precisão os compostos responsáveis pela reação.
Com a crescente popularidade das unhas em gel, o debate sobre seus riscos se torna cada vez mais necessário. “A estética não pode vir antes da saúde. Saber reconhecer os sinais de alerta e buscar orientação é essencial para quem não quer abrir mão do visual, mas também não quer colocar o bem-estar em risco”, finaliza a dra. Carla.