O que faz de uma marca de beleza mais do que apenas bons produtos? Para a Caudalie, a resposta está no encontro entre ciência e natureza. Fundada em 1995 na região vinícola de Bordeaux, a marca francesa nasceu da descoberta do poder antioxidante das sementes de uva e se transformou em um fenômeno mundial, reconhecido por unir eficácia clínica e compromisso ambiental.
Em entrevista à ELLE, Mathilde Thomas relembra a origem da empresa, explica como a sustentabilidade foi incorporada ao DNA da marca muito antes de virar tendência e revela os bastidores de alguns dos produtos mais icônicos da Caudalie.
Mathilde Thomas, fundadora da Caudalie.
Foto: Divulgação
Como surgiu a ideia da Caudalie e o que motivou você a criá-la?
Tudo começou em 1993. Eu e meu namorado – na época éramos estudantes de administração – conhecemos um cientista no vinhedo da minha família, o Château Smith-Haut-Lafitte, em Martillac, na França. Ele nos contou que a parte mais interessante da videira eram as sementes, porque continham polifenóis antioxidantes muito mais eficazes do que a vitamina E. E a oxidação, como sabemos, é o que enferruja carros, deixa frutas marrons e, claro, causa rugas. Então, nós tivemos a ideia de criar cosméticos usando esse ativo. Nos unimos a este cientista e dois anos depois lançamos nossos primeiros hidratantes antioxidantes.
Antes de descobrir os polifenóis, você já era apaixonada por skincare?
Na verdade, eu sempre tive bom olfato, e meu pai me incentivou a trabalhar com fragrâncias. Aos 17 anos, fiz um estágio na L’Oréal, em Cacharrel, e entrei no universo da cosmética. Depois, trabalhei com óleos essenciais e acabei migrando para o skincare. Por isso, as fragrâncias da Caudalie são tão especiais para mim.
As fragrâncias da marca são realmente únicas. Como foi desenvolver, por exemplo, o Fleur de Vigne?
É uma flor minúscula da videira que desabrocha só três dias por ano. Tem cheiro de rosa branca, pimenta rosa e melancia. Não dá para capturá-la, então fomos ao vinhedo com uma perfumista e recriamos a fragrância. Cada perfume da Caudalie tem uma história.
Foto: Reprodução/@caudalie
A Caudalie nasceu sustentável, muito antes disso ser uma pauta comum no mercado de beleza. Você pode contar mais sobre essas práticas sustentáveis?
É verdade: a Caudalie já era uma marca clean antes de isso se tornar moda. Isso está no nosso DNA. Eu e meu marido sempre fomos muito ligados à natureza e não queríamos criar, por exemplo, mais uma marca baseada em extratos animais. Na época, em 1995, o mercado usava colágeno de vaca em cremes e até placenta de ovelha em injeções para quem tinha muito dinheiro. Quando chegamos com extrato de semente de uva e uma proposta limpa, foi revolucionário. Eu criei minhas próprias regras para o que chamo de “clean”: sem desreguladores endócrinos, sem ingredientes irritantes, sem ingredientes de origem animal ou derivados petroquímicos, além de fórmulas altamente biodegradáveis, com no mínimo 95% de ingredientes de origem natural. Também contratamos engenheiros de embalagens para garantir materiais reciclados, recicláveis ou refiláveis. No caso da linha Premier Cru, o refil reduz 89% do uso de embalagem e ainda deixa o preço 15% menor. Hoje, metade das vendas dessa linha já é no formato refil.
Como vocês comunicam isso?
É um desafio. Nosso investimento em comunicação prioriza a eficácia dos produtos. Se sobra espaço, falamos que a fórmula é limpa e natural. Para ser sincera, quase não comunicamos a questão da sustentabilidade. Às vezes convidamos influenciadores para mostrar projetos que apoiamos, como a Nordesta, que trabalha com reflorestamento aqui no Brasil. Acreditamos que o melhor jeito de comunicar é mostrando o que realmente fazemos, não só falando. Nos EUA, por exemplo, a Caudalie foi pioneira e hoje é a principal marca de beleza no movimento 1% for the Planet. Há 13 anos doamos 1% do faturamento anual para a organização e já plantamos 13 milhões de árvores no mundo, sendo 1,3 milhão no Brasil. Também fazemos coleta 100% compensatória de plástico: tudo que usamos é recolhido e reaproveitado em países como a Indonésia. É nossa forma de retribuir, mas nunca usamos isso como slogan. Fazemos porque acreditamos.
Muitas pessoas ainda acham que cosméticos naturais não são tão eficazes. Isso foi difícil de superar?
No início sim, mas hoje não. Temos estudos clínicos robustos publicados em revistas científicas. Nossa linha Vinoperfect, por exemplo, é prescrita por dermatologistas em toda a Europa. Para conseguir isso, você precisa ter provas fortes de eficácia – estudos, workshops, congressos, etc.
Foto: Reprodução/@caudalie
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Como surgiram os spas?
O primeiro foi aberto em 1999, no hotel dos meus pais, Les Sources de Caudalie, em Bordeaux, com protocolos de tratamentos faciais e corporais. Depois, levamos esse conceito para outros países, inclusive para o Brasil. Cada linha de produtos tem seu próprio tratamento específico.
Como você percebe o público brasileiro?
A conexão é ótima. No Brasil, todo mundo tem dermatologista, o que não é comum em outros países. Além disso, há um vínculo muito forte com a natureza, o que combina perfeitamente com nossa proposta de eficácia e sustentabilidade. Começamos aqui com médicos, depois entramos na Sephora, e agora queremos retomar a proximidade com os dermatologistas para mostrar nossos estudos.
A Caudalie ainda é uma empresa familiar?
Sim. Eu e meu marido criamos a Caudalie e trabalhamos juntos há 30 anos. Meus pais seguem no vinho, minha irmã no hotel, e nós no skincare. Assino cada produto, meu nome está nas embalagens – então, tudo precisa ser impecável.
O mercado de skincare hoje está cheio de marcas coloridas, divertidas, quase como brinquedos. Como se posicionar em meio a isso?
Nossa prioridade é a eficácia. Depois, trabalhamos o design para que seja atraente, inclusive para a geração Z – minhas filhas me dão feedback. Também ouvimos a Sephora nos EUA, que está sempre à frente nas tendências.
Quais os maiores desafios hoje?
A concorrência, que é feroz em todos os mercados. E, claro, equilibrar nossa base científica com a velocidade das tendências.