MAC RS retoma exposições com mediação coletiva e arte atual

Daniel Felicio
10 Min de Leitura

Programação em Porto Alegre, da MAC RS, começou no dia 24 de junho com mediação coletiva entre as mostras

As Galerias Sotero Cosme, Augusto Meyer e Virgilio Calegari, na Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ), receberam novas exposições a partir de 24 de junho, marcando a retomada das atividades nos espaços após a Bienal do Mercosul. O ciclo de atividades reforça a atuação do Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MAC RS) na CCMQ, um espaço que tem sido a casa do MAC RS desde sua fundação, em 1992. Ambas instituições são da Secretaria da Cultura do Estado (Sedac).

Para abrir a agenda promovida pelo setor educativo do Museu, uma mediação coletiva pelas três exposições marcou um momento de reflexão e compartilhamento de sentidos entre artistas, curadores, educadores e visitantes.

São elas:

  • “Hecho a Mano – Desenhos Esculturas de Patricio Farías”
  • “Diálogos Contínuos: temporalidades do HIV/aids”,
  • “Lá embaixo era um outro mundo”

MAC RS reforça acesso e diversidade com novas ações e exposições

A mediação no dia da abertura começou às 17h, no 7º andar da CCMQ, na Fotogaleria Virgílio Calegari, seguiu para a Galeria Sotero Cosme, no 6º andar, e finalizou no 3º andar, na Galeria Augusto Meyer. Logo após, as mostras continuaram abertas à visitação. A entrada é gratuita.

O programa de exposições foi elaborado a partir da Chamada Aberta para projetos expositivos, com a seleção realizada pelo Comitê de Acervo e Curadoria do Museu. Este processo segue as políticas já estabelecidas, garantindo uma programação diversificada e de qualidade.

Além do ciclo de atividades que estreou no dia 24 de junho, o MAC RS continuará a desenvolver projetos como o “Acervo em Foco”, que contará com quatro edições ao longo do ano. A instituição também receberá propostas selecionadas por meio dos editais de fomento do Rio Grande do Sul, através do PNAB Artes Visuais, reforçando seu compromisso com a promoção da arte e da cultura na região.

O MAC RS também se prepara para a abertura de sua nova sede no 4º distrito, prevista para a primeira quinzena de agosto.

Sobre as exposições:

“Hecho a Mano: Desenhos Esculturas de Patricio Farías”, que ocupará a Fotogaleria Virgílio Calegari, integra o projeto Acervo em Foco, iniciativa do MAC RS voltada à democratização do acesso ao seu patrimônio artístico, destacando obras e trajetórias de artistas que compõem o acervo institucional. Chileno radicado no Brasil, Patricio Farías tem seu trabalho marcado pela relação íntima entre desenho e escultura.

A exposição evidencia como essas duas linguagens dialogam em sua produção, revelando elementos que extrapolam a materialidade das obras e introduzem aspectos de projeto, mistério e até mesmo humor. Com curadoria de Gabriela Motta, a mostra valoriza tanto a habilidade técnica quanto a dimensão simbólica da produção do artista, propondo um olhar sobre a trajetória pessoal de Farías, exilado do Chile em 1979 durante a ditadura militar.

Esta edição do programa Acervo em Foco propõe reflexões sobre deslocamento, pertencimento e os limites das definições rígidas – seja de nacionalidade, linguagem artística ou conceito. Com leveza e ironia, as obras de Patricio Farías também lançam um olhar crítico sobre o mundo contemporâneo e seus paradoxos.

Mostra conecta história da Aids e arte contemporânea no MAC RS

“Diálogos Contínuos: temporalidades do HIV/Aids”, que inaugura na Galeria Sotero Cosme (6º andar da CCMQ), é uma exposição que aborda a relação entre o HIV/Aids e a arte contemporânea, entendendo as mudanças sobre a enfermidade ao longo do tempo e suas diferentes manifestações na visualidade. Com curadoria de Ricardo Ayres e João Eduardo Freitas, e produção executiva de Sebastián Inostroza, a mostra reúne 13 artistas brasileiros e diferentes linguagens artísticas.

O projeto dialoga com a exposição “Arte Contra Aids”, realizada em 1994 no MAC RS, com curadoria de Edilson Viriato e Paulo Gomes. Reconhecendo sua importância histórica, foi uma das primeiras mostras institucionais a abordar o HIV/Aids no Brasil. Ainda assim, enfrentou forte estigma e preconceito à época, evidenciando sua relevância no contexto cultural e social do país. A presença de artistas da exposição original, como Elida Tessler, Edilson Viriato e Vicente de Mello, reafirma o vínculo com a história do Museu.

Além disso, reforça o compromisso da instituição com a preservação e valorização de memórias relevantes no campo artístico e social. Trabalhos de Vagner Dotto, Rogério Nazari e Mário Röhnelt, pertencentes ao acervo do MAC RS, ampliam a visão sobre os primeiros anos da epidemia. Do mesmo modo, ajudam a compreender o zeitgeist da época e as manifestações artísticas que emergiram em resposta à crise sanitária. A participação de Micaela Cyrino, Hiura Fernandes e outros artistas contemporâneos reflete o impacto atual da Aids como condição tratável, porém ainda estigmatizada. Assim, a mostra conecta passado e presente, ressaltando a permanência do tema e a importância do enfrentamento social e cultural da doença.

Arte investiga memórias e impactos da mineração no Baixo Jacuí

“Lá embaixo era um outro mundo”, reeditada no MAC RS, aborda a mineração na região carbonífera gaúcha e seus impactos ambientais e sociais. A exposição original aconteceu na Galeria Augusto Meyer, no terceiro andar da CCMQ, antes de ganhar nova leitura no museu. Com curadoria de Taís Cardoso, a mostra apresenta obras dos artistas Isabel Ramil e Marco Antonio Filho, criadas durante a residência artística Subsolo em 2023. A residência foi realizada no Museu Estadual do Carvão, em Arroio dos Ratos, e ampliou o debate sobre as transformações provocadas pela mineração. Criadas para o Museu do Carvão, as obras refletem sobre os impactos sociais e ambientais da mineração de carvão no Baixo Jacuí. Por consequência, evidenciam as tensões entre desenvolvimento econômico, preservação ambiental e as memórias locais do território explorado.

Enquanto Marco Antonio desenvolveu trabalhos dedicados a repensar a figura do mineiro, Isabel apresenta obras que tensionam ícones da região. A exposição nasceu da residência realizada no Museu do Carvão e estreou em abril de 2024. A artista Maria Helena Bernardes também participou, retomando a obra “Vaga em campo de rejeito”, desenvolvida na mesma região vinte anos antes. Os idealizadores investigaram os arquivos históricos do Museu do Carvão e exploraram as imediações de Arroio dos Ratos, incluindo uma visita à Copelmi, mineradora que ainda opera a céu aberto.

Sobre a Mediação Coletiva “Conversas de Casa”

“Conversas de Casa” é uma iniciativa voltada a aproximar os públicos dos artistas, curadores, produtores, educadores e demais agentes culturais envolvidos nas exposições em cartaz. O programa tem como objetivo criar um espaço de troca e reflexão sobre os bastidores das mostras, abordando critérios curatoriais, expografia e processos de criação.

Para marcar a abertura das exposições “Diálogos Contínuos”, “Lá embaixo era um outro mundo” e “Hecho a Mano”, o MAC RS propõe um novo formato. Dessa forma, o encontro será realizado de maneira distinta, promovendo uma experiência ampliada que articula as três exposições em uma única proposta de ativação coletiva. Em vez de concentrar o encontro em uma única sala, os participantes serão convidados a integrar uma mediação coletiva por todas as três exposições simultaneamente. Além disso, a experiência pretende fomentar escuta ativa, diálogo crítico e o compartilhamento de sentidos entre os participantes durante o percurso mediado pelas três exposições.

Por isso, busca-se criar conexões potentes entre os visitantes, as obras apresentadas e os contextos ativados por cada uma das propostas curatoriais. A proposta amplia o alcance do Conversas de Casa como um dispositivo de mediação cultural ativo e em constante evolução dentro do programa do MAC RS. Desse modo, fortalece o vínculo entre o museu e a comunidade que o frequenta, estimulando uma relação afetiva, crítica e contínua com o espaço. Por isso, a proposta estimula a construção coletiva de conhecimento por meio da arte contemporânea, a partir das experiências proporcionadas pelo percurso mediado nas exposições. Ademais, gera trocas significativas entre o público, o espaço expositivo e os temas ativados em cada mostra em cartaz no MAC RS.

MAC RS retoma exposições com mediação coletiva e arte atual
Foto: Anna Ortega
MAC RS retoma exposições com mediação coletiva e arte atual
Autoria: Camila Couto, Milton Ricardo e Ricardo Ayres
MAC RS retoma exposições com mediação coletiva e arte atual
Créditos: Acervo MACRS 4 – Sebastián
Foto: Acervo MAC RS
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