Programação em Porto Alegre, da MAC RS, começou no dia 24 de junho com mediação coletiva entre as mostras
As Galerias Sotero Cosme, Augusto Meyer e Virgilio Calegari, na Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ), receberam novas exposições a partir de 24 de junho, marcando a retomada das atividades nos espaços após a Bienal do Mercosul. O ciclo de atividades reforça a atuação do Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MAC RS) na CCMQ, um espaço que tem sido a casa do MAC RS desde sua fundação, em 1992. Ambas instituições são da Secretaria da Cultura do Estado (Sedac).
Para abrir a agenda promovida pelo setor educativo do Museu, uma mediação coletiva pelas três exposições marcou um momento de reflexão e compartilhamento de sentidos entre artistas, curadores, educadores e visitantes.
São elas:
- “Hecho a Mano – Desenhos Esculturas de Patricio Farías”
- “Diálogos Contínuos: temporalidades do HIV/aids”,
- “Lá embaixo era um outro mundo”
MAC RS reforça acesso e diversidade com novas ações e exposições
A mediação no dia da abertura começou às 17h, no 7º andar da CCMQ, na Fotogaleria Virgílio Calegari, seguiu para a Galeria Sotero Cosme, no 6º andar, e finalizou no 3º andar, na Galeria Augusto Meyer. Logo após, as mostras continuaram abertas à visitação. A entrada é gratuita.
O programa de exposições foi elaborado a partir da Chamada Aberta para projetos expositivos, com a seleção realizada pelo Comitê de Acervo e Curadoria do Museu. Este processo segue as políticas já estabelecidas, garantindo uma programação diversificada e de qualidade.
Além do ciclo de atividades que estreou no dia 24 de junho, o MAC RS continuará a desenvolver projetos como o “Acervo em Foco”, que contará com quatro edições ao longo do ano. A instituição também receberá propostas selecionadas por meio dos editais de fomento do Rio Grande do Sul, através do PNAB Artes Visuais, reforçando seu compromisso com a promoção da arte e da cultura na região.
O MAC RS também se prepara para a abertura de sua nova sede no 4º distrito, prevista para a primeira quinzena de agosto.
Sobre as exposições:
“Hecho a Mano: Desenhos Esculturas de Patricio Farías”, que ocupará a Fotogaleria Virgílio Calegari, integra o projeto Acervo em Foco, iniciativa do MAC RS voltada à democratização do acesso ao seu patrimônio artístico, destacando obras e trajetórias de artistas que compõem o acervo institucional. Chileno radicado no Brasil, Patricio Farías tem seu trabalho marcado pela relação íntima entre desenho e escultura.
A exposição evidencia como essas duas linguagens dialogam em sua produção, revelando elementos que extrapolam a materialidade das obras e introduzem aspectos de projeto, mistério e até mesmo humor. Com curadoria de Gabriela Motta, a mostra valoriza tanto a habilidade técnica quanto a dimensão simbólica da produção do artista, propondo um olhar sobre a trajetória pessoal de Farías, exilado do Chile em 1979 durante a ditadura militar.
Esta edição do programa Acervo em Foco propõe reflexões sobre deslocamento, pertencimento e os limites das definições rígidas – seja de nacionalidade, linguagem artística ou conceito. Com leveza e ironia, as obras de Patricio Farías também lançam um olhar crítico sobre o mundo contemporâneo e seus paradoxos.
Mostra conecta história da Aids e arte contemporânea no MAC RS
“Diálogos Contínuos: temporalidades do HIV/Aids”, que inaugura na Galeria Sotero Cosme (6º andar da CCMQ), é uma exposição que aborda a relação entre o HIV/Aids e a arte contemporânea, entendendo as mudanças sobre a enfermidade ao longo do tempo e suas diferentes manifestações na visualidade. Com curadoria de Ricardo Ayres e João Eduardo Freitas, e produção executiva de Sebastián Inostroza, a mostra reúne 13 artistas brasileiros e diferentes linguagens artísticas.
O projeto dialoga com a exposição “Arte Contra Aids”, realizada em 1994 no MAC RS, com curadoria de Edilson Viriato e Paulo Gomes. Reconhecendo sua importância histórica, foi uma das primeiras mostras institucionais a abordar o HIV/Aids no Brasil. Ainda assim, enfrentou forte estigma e preconceito à época, evidenciando sua relevância no contexto cultural e social do país. A presença de artistas da exposição original, como Elida Tessler, Edilson Viriato e Vicente de Mello, reafirma o vínculo com a história do Museu.
Além disso, reforça o compromisso da instituição com a preservação e valorização de memórias relevantes no campo artístico e social. Trabalhos de Vagner Dotto, Rogério Nazari e Mário Röhnelt, pertencentes ao acervo do MAC RS, ampliam a visão sobre os primeiros anos da epidemia. Do mesmo modo, ajudam a compreender o zeitgeist da época e as manifestações artísticas que emergiram em resposta à crise sanitária. A participação de Micaela Cyrino, Hiura Fernandes e outros artistas contemporâneos reflete o impacto atual da Aids como condição tratável, porém ainda estigmatizada. Assim, a mostra conecta passado e presente, ressaltando a permanência do tema e a importância do enfrentamento social e cultural da doença.
Arte investiga memórias e impactos da mineração no Baixo Jacuí
“Lá embaixo era um outro mundo”, reeditada no MAC RS, aborda a mineração na região carbonífera gaúcha e seus impactos ambientais e sociais. A exposição original aconteceu na Galeria Augusto Meyer, no terceiro andar da CCMQ, antes de ganhar nova leitura no museu. Com curadoria de Taís Cardoso, a mostra apresenta obras dos artistas Isabel Ramil e Marco Antonio Filho, criadas durante a residência artística Subsolo em 2023. A residência foi realizada no Museu Estadual do Carvão, em Arroio dos Ratos, e ampliou o debate sobre as transformações provocadas pela mineração. Criadas para o Museu do Carvão, as obras refletem sobre os impactos sociais e ambientais da mineração de carvão no Baixo Jacuí. Por consequência, evidenciam as tensões entre desenvolvimento econômico, preservação ambiental e as memórias locais do território explorado.
Enquanto Marco Antonio desenvolveu trabalhos dedicados a repensar a figura do mineiro, Isabel apresenta obras que tensionam ícones da região. A exposição nasceu da residência realizada no Museu do Carvão e estreou em abril de 2024. A artista Maria Helena Bernardes também participou, retomando a obra “Vaga em campo de rejeito”, desenvolvida na mesma região vinte anos antes. Os idealizadores investigaram os arquivos históricos do Museu do Carvão e exploraram as imediações de Arroio dos Ratos, incluindo uma visita à Copelmi, mineradora que ainda opera a céu aberto.
Sobre a Mediação Coletiva “Conversas de Casa”
“Conversas de Casa” é uma iniciativa voltada a aproximar os públicos dos artistas, curadores, produtores, educadores e demais agentes culturais envolvidos nas exposições em cartaz. O programa tem como objetivo criar um espaço de troca e reflexão sobre os bastidores das mostras, abordando critérios curatoriais, expografia e processos de criação.
Para marcar a abertura das exposições “Diálogos Contínuos”, “Lá embaixo era um outro mundo” e “Hecho a Mano”, o MAC RS propõe um novo formato. Dessa forma, o encontro será realizado de maneira distinta, promovendo uma experiência ampliada que articula as três exposições em uma única proposta de ativação coletiva. Em vez de concentrar o encontro em uma única sala, os participantes serão convidados a integrar uma mediação coletiva por todas as três exposições simultaneamente. Além disso, a experiência pretende fomentar escuta ativa, diálogo crítico e o compartilhamento de sentidos entre os participantes durante o percurso mediado pelas três exposições.
Por isso, busca-se criar conexões potentes entre os visitantes, as obras apresentadas e os contextos ativados por cada uma das propostas curatoriais. A proposta amplia o alcance do Conversas de Casa como um dispositivo de mediação cultural ativo e em constante evolução dentro do programa do MAC RS. Desse modo, fortalece o vínculo entre o museu e a comunidade que o frequenta, estimulando uma relação afetiva, crítica e contínua com o espaço. Por isso, a proposta estimula a construção coletiva de conhecimento por meio da arte contemporânea, a partir das experiências proporcionadas pelo percurso mediado nas exposições. Ademais, gera trocas significativas entre o público, o espaço expositivo e os temas ativados em cada mostra em cartaz no MAC RS.



