Fim de uma era. Fechamento de ciclo. Canto do cisne. Cabô caqui. Na manhã desta quarta-feira (09.07), Demna apresentou sua última coleção como diretor criativo da Balenciaga. E foi emocionante.
O adeus aconteceu com o inverno 2025 de alta-costura, desfilado nos mesmos salões usados por Cristóbal Balenciaga, na Avenida George V, em Paris. Foi lá que, em julho de 2021, Demna reintroduziu a linha de couture da casa, 53 anos depois de seu encerramento. Na trilha, ouvia-se os nomes dos colaboradores da etiqueta e, depois, No ordinary love, de Sade.
Balenciaga, inverno 2025 alta-costura.
Foto: Divulgação
Balenciaga, inverno 2025 alta-costura.
Foto: Divulgação
Balenciaga, inverno 2025 alta-costura.
Foto: Divulgação
Leia mais:
Ao todo, foram dez anos do estilista na marca.
O desfile de hoje também teve gostinho de retrospectiva, ainda que bem sutil. Na verdade, foi uma grande síntese. Os looks combinam paixões muito pessoais e de longa data de Demna com princípios fundamentais de design da Balenciaga e de seu fundador.
Começando pela construção, uma enorme obsessão de Cristóbal e um gigante interesse de seu mais recente sucessor. Elas são bastante intrincadas e servem de base para as formas esculturais de aparência minimalista. Aqui, são trabalhadas em silhuetas ampulheta exageradas, porém levíssimas, com estruturas confortáveis de corsets. O pensamento é paradoxalmente reducionista. Pense em costuras mínimas e pontuais, mas com uma complexidade incalculável na execução.
Balenciaga, inverno 2025 alta-costura.
Foto: Divulgação
Balenciaga, inverno 2025 alta-costura.
Foto: Divulgação
Balenciaga, inverno 2025 alta-costura.
Foto: Divulgação
Leia mais:
Algumas peças são interpretações explícitas de criações do passado. O conjunto com padronagem pied de poule é uma nova versão de um modelo de 1967. A estampa floral com bordados do look 10 foi desenhada em 1957, e lembrou Demna das toalhas de mesa de sua avó.
Não é a primeira vez que ele referencia elementos ou memórias de sua infância e da sua família. Quase todas suas coleções têm um pouco disso. O verão 2025 foi desfilado em cima de uma mesa, porque era onde ele brincava de fazer roupas de cartolina quando criança. O pre-fall 2024 foi desfilado em Los Angeles, porque a indústria do entretenimento dos Estados Unidos teve imensa influência em sua formação.
Balenciaga, inverno 2025 alta-costura.
Foto: Divulgação
Balenciaga, inverno 2025 alta-costura.
Foto: Divulgação
Balenciaga, inverno 2025 alta-costura.
Foto: Divulgação
Leia mais:
Agora, no inverno 2025 de alta-costura da Balenciaga, o glamour da antiga Hollywood aparece em vestidos e joias inspirados em figurinos famosos de Marilyn Monroe e Elizabeth Taylor. O fato de um deles ter sido desfilado por Kim Kardashian diz muito sobre a atualidade da visão do estilista.
Demna é um costureiro excelente. Porém, sua genialidade está na maneira como ele usa as roupas e a moda para comentar aspectos socioculturais muito relevantes e para propor novas formas de vestir tudo isso. O ponto de partida desta coleção foram estudos sobre os códigos de vestimenta da burguesia, outra obsessão bem antiga do designer. Vêm daí os ternos de proporções monumentais, com ombros arredondados e lapelas em forma de tulipa para emoldurar os rostos das modelos.
Acontece que a atmosfera dos salões de alta-costura é rarefeita demais para o Demna. Para ele, a razão de ser desse métier é oferecer um guarda-roupa ideal de peças-chave com qualidade couture. Na prática, isso significa uma jaqueta bomber de seda superleve, um blusão de tafetá, um trench-coat extremamente arejado, uma jaqueta puffer sem costuras laterais, um sobretudo de cashmere com elementos biker e uma calça bordada para parecer veludo cotelê.
Balenciaga, inverno 2025 alta-costura.
Foto: Divulgação
Balenciaga, inverno 2025 alta-costura.
Foto: Divulgação
Balenciaga, inverno 2025 alta-costura.
Foto: Divulgação
Leia mais:
Caimento é outra qualidade de suma importância. O casting com belezas e idades variadas é essencial nesse sentido, além de imprimir uma maior proximidade com a realidade. Uma máxima batida na moda diz que é o corpo que define a roupa e não a roupa que define o corpo. Poucos trabalharam essa ideia de forma mais interessante do que Demna.
Para sua despedida da Balenciaga, ele colaborou com quatro alfaiatarias familiares de Nápoles. A maioria é comandada por pai e filho. A alfaiataria napolitana ganhou força no início do século 20 como uma alternativa à formalidade sisuda da alfaiataria inglesa da Savile Row. Sua construção é leve, solta, com ombros naturais e quase nada de forro.
As parcerias resultaram em nove ternos sob medida, pensados dentro da lógica de tamanho único. Eles foram moldados no corpo do fisiculturista que desfilou o look 22. Só um foi usado pelo modelo de prova. Os outros, por pessoas de corpos variados para assumir silhuetas completamente diferentes.
Balenciaga, inverno 2025 alta-costura.
Foto: Divulgação
Balenciaga, inverno 2025 alta-costura.
Foto: Divulgação
Balenciaga, inverno 2025 alta-costura.
Foto: Divulgação
Leia mais:
Vestir alguém com uma roupa com medidas de outra pessoa é (ou era) impensável para os padrões da alta-costura francesa. Se essa roupa fosse produzida por alfaiates italianos, mais ainda. Do mesmo que, quatro anos atrás, era impensável ver jeans e camiseta numa das maisons de couture mais veneradas de todos os tempos. Dessa vez, teve até tênis – feito artesanalmente.
Para terminar, teve a musa e amiga do estilista, Eliza Douglas, em um vestido estruturado de renda confeccionado com técnicas de chapelaria. E, pela primeira vez em seus 10 anos na Balenciaga, Demna entrou na passarela para receber os aplausos finais. Deu um beijo no seu chefe, François-Henri Pinault, CEO do grupo Kering, e saiu de cena.
Amanhã ele começa como diretor de criação da Gucci.
Balenciaga, inverno 2025 alta-costura.
Foto: Divulgação
=
Balenciaga, inverno 2025 alta-costura.
Foto: Divulgação
Balenciaga, inverno 2025 alta-costura.
Foto: Divulgação