Lisboa nunca – mas nunca mesmo! – decepciona. Nem na hospitalidade, tampouco na gastronomia. A capital portuguesa é sempre um bom destino, por isso, convidada para visitar a cidade, não titubeei: lá fui eu, representando a ELLE, para provar tudo com prazer!
O hotel com história
Primeira parada: a hospedagem no Four Seasons Hotel Ritz Lisbon, o maravilhoso hotel fundado no início da década de 1950. No pós-Segunda Guerra Mundial, o governo português queria muito um hotel do qual Lisboa e Portugal pudessem encher o peito de orgulho. Pois bem, deu certo: em 1952, o Ritz Lisboa abriu as portas, próximo ao parque Eduardo VII.
De lá para cá, essa instituição passou por duas grandes reformas. O Four Seasons assumiu a gestão em 1997 e garantiu que o encanto histórico não se perdesse com o tempo. Com suas amplas sacadas, a construção mostra uma vista panorâmica de Lisboa, dando uma sensação de acolhimento a quem chega.
Vista aérea do Four Seasons Hotel Ritz Lisbon.
Foto: Instagram / @fslisbon
Na chegada, com recepção simpática e calorosa do staff, a primeira impressão é que o luxo clássico está em tudo. Existe um bom gosto e aquela sofisticação que, particularmente, me deixou impactada: é um hotel, mas guarda espaços que parecem uma galeria de arte, com peças escolhidas para casar a decoração com a tal art de vivre de que se fala tanto na França – e que, não obstante, atravessou mares e influenciou o país vizinho Portugal.
Ah, apesar da magnitude, sempre tem um cantinho onde se pode sentar para tomar um café ou um drink, ou um belo sofá para ver as modas passarem.
Construído com o objetivo de deixar à cidade um legado inovador, o hotel tem uma estrutura modernista, complementada por fachadas, paredes internas e pisos revestidos com uma colorida variedade de mais de 40.000 metros quadrados de mármore. Tudo obra de Henri Samuel, designer de interiores francês, que assina a decoração. Ali, ele aliou art déco ao famoso estilo Luís XVI, com o toque de artesãos portugueses que executaram o projeto. Os quartos são amplos, perfeitos para uma estadia (que poderia ser de bem mais do que dois dias, o tempo que fiquei. Mas não se pode ter tudo nessa vida!)
Four Seasons Hotel Ritz Lisbon: Rua Rodrigo da Fonseca 88, Lisboa.
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O restaurante que surpreende
Ali mesmo no Four Seasons Ritz Lisbon, temos uma das grandes atrações gastronômicas de Lisboa: o restaurante CURA.
Já no nome, uma abreviação de “curadoria”, ele diz a que se propõe: uma curadoria habilidosa de sabores. Primeira dica: vá preparado, com o paladar bem ativado, pois nada do que parece é, realmente.
Lula sagres.
Foto: Ana Garmendia
Fiquei impressionada com o refinamento e a delicadeza do jovem chef Rodolfo Lavrador. Alquimista dos sabores, ele entra na alta gastronomia, trazendo pratos simples do cardápio português ao máximo refinamento. O boi galego, por exemplo, é guarnecido com endívias, figo e limão-caviar; as ostras vêm cobertas com cereja, raiz-forte e canela. As sobremesas são surpreendentes: o famoso crème dos Açores é servido ao lado de berbigões em uma calda com wasabi e tiras de pepino refrescante. Vale cada minuto, cada garfada. Os vinhos também são deliciosos, todos do terroir português! Mas, se for para eleger algo de lá, deixo aqui o meu preferido; a lula sagres, um magnífico prato com lula, arroz, feijão, algas e flor de sabugueiro, que instiga pela aparência e revoluciona quando é degustado. Perfeito. Ah, o CURA tem uma estrela no Guia Michelin. Bem merecida, diga-se de passagem.
CURA: Rua Rodrigo da Fonseca 88, Lisboa.
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O cardápio sem desperdício
No meu segundo dia em Lisboa, fui conhecer um lugar que traz uma mistura de Brasil, Portugal, Inglaterra, Nova Zelândia e Austrália. Trata-se do SEM, um restaurante contemporâneo comprometido em respeitar o planeta. Fundado pela brasileira Lara Espírito Santo e pelo chef neozelandês George McLeod, o SEM faz o match entre o sabor e o compromisso ambiental do desperdício zero. O casal se conheceu em Londres, mas em plena pandemia mudou para Lisboa.
Para compreender o processo criativo da dupla, antes de ir ao restaurante propriamente dito, visitamos alguns dos lugares onde eles recolhem os legumes e ingredientes que são servidos na casa. E aí a gente entende que nada pode ser fixo no cardápio do SEM, afinal, a natureza vive de sazonalidade. O projeto é apaixonante e o restaurante é um cantinho delicioso na cidade, com serviço impecável.
Recomendado pelo Guia Michelin, o SEM apresenta um menu de degustação diário inspirado na natureza, sazonalidade e técnicas culinárias ancestrais. George faz vários tipos de fermentados, que ficam à mostra nas prateleiras do restaurante, ao lado dos vinhos de diferentes nacionalidades.
Tempura do SEM.
Foto: Divulgação
Como o objetivo é não ter desperdício de alimentos, cada ingrediente que chega à cozinha é utilizado em sua totalidade. “Usar espécies selvagens e invasivas é um pilar dessa visão e uma evidência adicional da nossa perspectiva sobre o desperdício de alimentos: o desperdício é o que existe em excesso, seja devido a desequilíbrios no sistema alimentar ou desvalorização comercial. Ser zero desperdício não é apenas sobre o que jogamos fora, mas talvez principalmente sobre o que não usamos,” diz George.
O SEM prioriza o uso de vegetais, mas não é vegetariano. Por ali, o que se busca é uma coerência no cardápio, que traz 80% de grãos, legumes e outros vegetais para 20% de proteína animal – uma proporção que nos lembra que não temos necessidade de comer grandes quantidades de carne. Todos os ingredientes de origem animal aderem a critérios rigorosos de seleção em relação à saúde do solo, biodiversidade e sequestro de carbono atmosférico. Coisa séria. Os peixes marinhos são substituídos por espécies de água doce.
Outra fonte de alegria e criatividade são os ingredientes selvagens. A cozinha do SEM tem pratos com flores de sabugueiro, frutas silvestres, caules, flores, figos do mar, folhas de eucalipto… Lara diz que as possibilidades são “infinitas” e a vontade deles é que todo mundo coma bem, sem excessos. “Nós somos uma cozinha que não utiliza produtos de alto padrão, como caviar, foie gras ou barriga de atum. Chefs, afinal, são um grupo criativo de pessoas e, com a mentalidade e as habilidades certas, podem transformar ingredientes simples em comidas interessantes e de alto nível”, diz George. Assim, se faz um delicioso e intrigante cardápio. Vá sem medo, com fome e prepare-se porque a viagem é linda. Eu gostei de tudo, principalmente de uma sobremesa de chocolate que não tinha chocolate (será que eu entendi bem? Vá e me conte!)
SEM: Rua Das Escolas Gerais, 120. Lisboa. Email: hello@restaurantsem.com.
A casa de velas
A histórica Vellas Loreto.
Foto: Reprodução cazavellasloreto.com.pt
Essa loja eu frequento há anos e jamais passo por Lisboa sem dar um pulo lá. A Vellas Loreto existe desde 1789, ano da Revolução Francesa. Quando abriu as portas, a loja recebeu como condição de funcionamento iluminar a rua Loreto com duas tochas acesas à noite. A tocha metálica na fachada é para lembrar os velhos tempos e hoje ela é considerada patrimônio histórico de Portugal. Só por isso vale ir para conhecer e, claro, levar umas lindas velas para casa. Elas não têm cheiro nem embalagens chiques, e esse é o charme de tudo. Amo.
Vellas Loreto: Rua Loreto, 53/5, Lisboa.
O bar chinês
Pavilhão Chinês: drinks e ambiente incríveis.
Foto: Divulgação
Apesar de o prédio onde o Pavilhão Chinês existir desde 1901, o bar/casa de chá e museu abriu só em 1986. E olha só: o dono, que se chama Luís Pinto Coelho, buscava um espaço para expor sua vasta coleção de miniaturas, com cerca de 4 mil peças de porcelana! Preservando uma grande parte do mobiliário original e criando um ambiente impressionante, Coelho elaborou um cardápio de drinks com mais de 40 sabores de chá e uma centena de coquetéis diferentes. Vale muito conhecer: o lugar é lindo, carregado de informações, tem uma sala de bilhar que deixa tudo ainda mais inusitado e os drinks são ótimos. Eu amo!
Pavilhão Chinês: Rua Dom Pedro V, n° 89/91.
Ana Garmêndia viajou a Lisboa a convite do Four Seasons Hotel Ritz Lisbon.